Estratégia de Vacinação Contra o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) em Gestantes

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Autoria: Janaina Eduarda Amarante Gonçalves Bispo – Analista em gestão da Educação em Saúde da FUNESA.

O Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é conhecido por ser um agente infeccioso que causa infecção do trato respiratório inferior principalmente em crianças menores e idosos. Nos últimos anos o Ministério da Saúde tem dado especial atenção às crianças menores de 2 (dois) anos devido a suscetibilidade  em cenário epidemiológico de certas épocas do ano, principalmente quando o clima está frio e propício para a proliferação de vírus respiratórios. Como outros, o VSR possui a característica da sazonalidade com o risco de desenvolver-se de forma grave, sendo uma das principais causas de hospitalização de crianças e risco acentuado em caso de prematuros e crianças com morbidades (doenças prévias e condições congênitas).

A principal rota de transmissão do VSR é a respiratória, podendo ser transmitido via gotículas expelidas durante a tosse e espirro, porém é importante higienizar objetos que entram em contato com a mucosa respiratória, além das mãos, pois pessoas podem entrar em contato com o vírus via superfícies contaminadas e devido ao contato com a pessoa já adoecida – que pode não estar sob uso de máscara e sem higienizar as mãos-.

Diagnóstico

O diagnóstico é feito de forma clínica e com abordagem sindrômica, ou seja, com observação dos sinais e avaliação dos sintomas que podem englobar: rinorreia, tosse, obstrução nasal, febre, dificuldade respiratória com retração intercostal e batimento de asas de nariz, diminuição da expansão torácica com aumento no esforço respiratório e sibilância respiratória. Exames de imagens não são necessariamente necessários. Mas podem ser solicitados como exames complementares, além do hemograma e gasometria arterial.

Diagnóstico Diferencial

Para descartar outros diagnósticos, como resfriado, asma, pneumonia, entre outros, é necessária atenção para o sinal da sibilância que configura o principal sinal diferencial. Deve ser colhida história prévia de sibilância, dermatite atópica e asma em pai ou mãe.

A seguir um fluxograma que demonstra as possibilidades envolvendo criança com tosse com ou sem febre, com dificuldade respiratória ou não:

Fonte: Protocolo Estadual de Sazonalidade Pediátrica (Sergipe, 2025). 

Medidas de Prevenção

Prevenção pode ser descrito como conjunto de medidas ou preparação antecipada que visa prevenir. Nesse sentido, é preciso se antecipar ao período que comumente observam-se aumento de fluxo e das filas nas urgências pediátricas devido ao vírus sincicial respiratório. Tem-se como melhor opção a vacinação com utilização de anticorpos monoclonais.

O SUS disponibiliza desde 2013 o imunobiológico palivizumabe. Anticorpo monoclonal que pode ser utilizado em crianças devido à sazonalidade do VSR. A princípio o imunobiológico esteve indicado para crianças prematuras nascidas com idade gestacional ≤28 semanas com idade inferior a 1 ano e aquelas com idade inferior a 2 anos portadores de doença pulmonar crônica ou doença cardíaca congênita.  A seguir os sinais de alerta de acordo com a idade:

 


Esquema de vacinação para gestante

Com o intuito de ampliar a possibilidade de proteção das crianças menores de 6 (seis) meses de idade contra o VSR, a partir de novembro de 2025 a vacina VSR A e B (recombinante) passa a fazer parte do Calendário de Vacinação da Gestante, conforme Portaria SECTICS Nº 14, de 24 de fevereiro de 2025. Assim, é possível proteger as crianças a partir da transmissão dos anticorpos por via transplacentária, ou seja, da mãe para o bebê ainda durante a gestação. Essa é uma estratégia do Programa Nacional de Imunizações (PNI). A aplicação ao final do terceiro trimestre de gestação é um consenso. 

Precauções (Segundo o Ministério da Saúde)

• Estados febris: a vacinação deve ser adiada em casos de febre moderada a alta até a resolução do quadro agudo, como medida de precaução para evitar interpretações equivocadas sobre reações vacinais. No entanto, a presença de infecções leves, como resfriados, sem febre significativa, não constitui contraindicação à vacinação.

 • Eventos locais leves: reações no local da aplicação, como dor, eritema ou edema, são geralmente autolimitadas. Nesses casos, recomenda-se a aplicação de compressas frias. Em situações de maior
intensidade, analgésicos podem ser utilizados, desde que sob orientação médica.

• Gestantes com distúrbios de coagulação: a vacina deve ser administrada com cautela em pessoas com trombocitopenia ou distúrbios da coagulação, devido ao risco potencial de sangramento no local da aplicação intramuscular.

 • Gestantes imunocomprometidas: pacientes imunocomprometidos, inclusive aqueles em uso de imunossupressores, podem apresentar resposta imune reduzida à vacina. A efetividade da imunização pode, portanto, ser limitada nesse grupo, devendo ser considerada individualmente.

• Uso em gestantes com menos de 24 semanas: a vacina não foi estudada em gestantes com menos de 24 semanas de gestação. Como a proteção neonatal contra o VSR depende da transferência transplacentária de anticorpos, o laboratório produtor recomenda que a vacina deve ser administrada preferencialmente entre 28 e 36 semanas de gestação. De acordo com o Grupo Consultivo Estratégico de Especialistas em Imunização (SAGE) de colaboração da OMS em 2024, os países que introduzirem essa vacina devem considerar a administração de dose única no terceiro trimestre de gestação (≥ 28 semanas de gestação), sem restrição de limite superior – exceto para mulheres em trabalho de parto ativo.

Contraindicações (Segundo o Ministério da Saúde)

A vacina contra o vírus sincicial respiratório A e B (recombinante) é contraindicada nos casos de hipersensibilidade às substâncias ativas ou a qualquer componente dela. As reações são raras.

Administração simultânea com outras vacinas ou medicamentos (Segundo o Ministério da Saúde)

A vacina VSR A e B recombinante pode ser administrada concomitantemente às vacinas sazonais de influenza e às vacinas de mRNA contra covid-19. Para a vacina dTpa, também, recomenda-se a administração concomitantemente para não perder a oportunidade de vacinação. Se vacinas aplicadas no mesmo dia essas devem ser administradas em locais diferentes.

Registro e informações da vacinação contra o VSR

As doses aplicadas deverão ser registradas nos sistemas de informação e-SUS APS, SI-PNI, nos sistemas próprios ou terceiros que estejam devidamente integrados à Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), conforme Portaria GM/MS n.º 5.66325 , de 31 de outubro de 2024, e Nota Técnica n.º 115/2024-DPNI/SVSA/MS.

Fontes: 

Andreoni, M.  et al. RSV vaccination as the optimal prevention strategy for older adults. Le Infezioni in Medicina, n. 4, 478-488, 2024 doi: 10.53854/liim-3204-6

GOVERNO DE SERGIPE. Classificação de Risco das Síndromes Respiratórias Agudas em Pediatria. Abordagem de crianças e adolescentes com sinais e sintomas respiratórios. Protocolo Assistencial de Bronquiolite. Protocolo Assistencial de Asma. Secretaria de Estado da Saúde/Fundação Estadual da Saúde. Sergipe, 2024. 28 p.

BRASIL. Estratégia de Vacinação Contra o Vírus Sincicial Respiratório em Gestantes. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento do Programa Nacional de Imunizações. Coordenação-Geral de Incorporação Científica e Imunizações. Brasília: Ministério da Saúde. 2025. 31 p.