Autoria: Enf (a) Janaina Eduarda Amarante Gonçalves Bispo – Equipe de Teleorientação em Pediatria
Desde a primeira epidemia de Dengue no Brasil com confirmação laboratorial entre os anos de 1982 e 1983 esta arbovirose caracteriza-se como uma doença que atinge, sobretudo, pessoas residentes em grandes centros urbanos. Porém, na última década, essa doença passou a ser comumente identificada em cidades de médio e pequeno porte no país, que é endêmico para Dengue, e que possuem em suas cidades urbanizadas condições favoráveis para a proliferação e manutenção do seu principal vetor: o Aedes aegypti (Segurado; Cassenote; Luna, 2016; Brasil, 2024).
Para entender os padrões espaços-temporais de casos de Dengue é fundamental o entendimento de que o Aedes aegypti é uma espécie com distribuição cosmopolita e antropofílica, ou seja, quanto maior a presença humana, melhor, já que a fêmea necessita de sangue, seja animal vertebrado não-humano ou humano, para poder maturar os ovos. Os ambientes urbanos com altas densidades demográficas se tornam propícios a essa antropofilia devido a uma alta quantidade de pessoas. Outras características como a existência de criadouros artificiais, altas temperaturas em Ilhas de Calor e condições estruturais de urbanização também são importantes (De Azevedo et al., 2018).
A literatura considera que os impactos da presença do vetor Aedes aegypti podem ser mais significantes em metrópoles onde existem anéis de aglomeração populacional, áreas periféricas com presença de habitações subnormais e oferta deficitária de serviços urbanos essenciais como saneamento básico adequado. Também é visto que a distribuição da frequência de pessoas infectadas diferencia-se em uma mesma cidade, onde existem áreas com mais pessoas diagnosticadas positivamente do que outras (Donalisio; Freitas; Zuben, 2017).
A dengue é endêmica no Brasil e possui um padrão sazonal, ou seja, ocorre durante todo o ano e coincide com períodos quentes e chuvosos. Momento em que é observado aumento no número de casos. A infecção pelo vírus Dengue pode ser sintomática ou assintomática. Um quadro clínico clássico ou evoluir para Febre Hemorrágica da Dengue (FHD). O risco advém dos casos sintomáticos que podem ser leves graves. Há casos também que incorrem em óbito. Geralmente possui três fases clínicas: febril (>38º), crítica e de recuperação (Brasil, 2024.
Costumeiramente, pessoas infectadas com esse vírus apresentam cefaleia, dores musculares e articulares , dor retroorbitária (nos olhos) e febre. Também pode apresentar outros sintomas como diarreia e manchas no corpo (exantema) acompanhado ou não de prurido (coceira na pela), como também falta de apetite. Outros sintomas sãos sinais de alerta: dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, acúmulo de líquidos (no abdômen, nos pulmões e no pericárdio). Hipotensão postural, hepatomegalia, sangramento de mucosa e letargia. Estes se apresentam na fase crítica da doença. O reconhecimento dos sinais de alarme da dengue é de suma importância. Por isso, diante da suspeita a triagem pelos profissionais de saúde deve ser minuciosa e percepção da evolução clínica, pois a hospitalização pode ser necessária. O acúmulo de líquidos significa extravasamento do plasma e ocorrência de sangramentos pode evoluir para hemorragias, que podem levar o paciente ao choque e ao óbito (Brasil, 2024; World Health Organization, 2009).
A Dengue na criança se torna mais preocupante. Pode apresentar-se como assintomática, uma síndrome febril clássica ou apresentar-se com sinais e sintomas inespecíficos. É necessário observar adinamia (fraqueza muscular), sonolência, recusa alimentar e de líquidos, vômitos e diarreia. Nas crianças há um risco maior, pois os sinais e sintomas podem ser confundidos com outros quadros infecciosos que se apresentam nas crianças (Brasil, 2002).
As medidas de controle são bem conhecidas, porém o desafio ainda persiste. A única garantia de que não exista mais dengue é a eliminação do vetor. Em muitos criadouros ainda são encontradas larvas do mosquito Aedes aegypti, mesmo com todos os esforços do Ministério da Saúde e do SUS para eliminar os focos de larvas. Será necessário sempre o cuidado e esforço da população como co-responsável na eliminação do mosquito.
Mesmo sendo o Brasil pioneiro n vacinação contra a Dengue, a participação comunitária é essencial, como também educação em saúde, até que todos adquiram a consciência do necessário a fazer e como manter as condições de manejo ambiental, medidas de prevenção e controle.
REFERÊNCIAS
SEGURADO, AC; CASSENOTE, A J; LUNA, EA. Saúde nas metrópoles – Doenças infecciosas. Estud. av. 2016. Disponível em : www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142016000100029 . Doi: 10.1590/S0103-40142016.00100003.
De Azevedo TS, Bourke BP, Piovezan R, Sallum MAM. The influence of urban heat islands and socioeconomic factors on the spatial distribution of Aedes aegypti larval habitats. Geospat Health. 2018. Disponível em: https://geospatialhealth.net/index.php/gh/article/view/623. Doi: 10.4081/gh.2018.623.
Donalisio MR, Freitas ARR, Zuben APBV. Arboviroses emergentes no Brasil: desafios para a clínica e implicações para a saúde pública. Rev. Saúde Pública. 2017. Disponível em: www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102017000100606&lng=en. Doi: doi.org/10.1590/s1518-8787.2017051006889.
Brasil. Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde. Dengue: aspectos epidemiológicos, diagnóstico e tratamento. Fundação Nacional de Saúde. – Brasília: Fundação Nacional de Saúde, 2002.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de Doenças Transmissíveis. Dengue: diagnóstico e manejo clínico: adulto e criança / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Departamento de Doenças Transmissíveis. – 6. ed. – Brasília : Ministério da Saúde, 2024.
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Dengue: guidelines for the diagnosis, treatment, prevention and control. 9. ed. Geneva, 2009.