Bronquiolite aguda

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Autoria: Janaina Eduarda Amarante Gonçalves Bispo – Analista em Gestão da Educação em Saúde da Funesa

Muitas condições respiratórias podem ser percebidas em crianças nas primeiras idades. Uma delas, a bronquiolite tem sido um desafio significativo principalmente em épocas de clima menos quente, mais frio. Ou seja, sua ocorrência é sazonal (Lanari et al.,2020). Essa patologia viral é uma das causas de hospitalização e aumento das filas em urgências pediátricas. O Vírus Sincicial Respiratório (VSR) é o principal agente etiológico, embora outros vírus respiratórios possam estar envolvidos, como o adenovírus, vírus influenza, rinovírus, metapneumovírus e bocavírus (Hall et al., 2009; Midulla et al., 2010).

A evolução clínica da bronquiolite pode variar de quadros leves. Caracteriza-se enquanto síndrome gripal com os seguintes sinais e sintomas: tosse, obstrução nasal, batimento das asas do nariz, retração intercostal e de fúrcula, febre, dificuldade respiratória com presença de sibilância sem resposta a broncodilatador. Na presença de comorbidades a atenção aos cuidados deve ser maior: crianças com cardiopatias congênitas, doença renal crônica, doenças pulmonares, hepatopatias, diabetes, doença falciforme, imunodeficiências, síndromes genéticas (SES/FUNESA, 2024). A incidência da bronquiolite tem sido amplamente estudada. Percebe-se o acometimento, sobretudo de lactentes (crianças em fase de amamentação até 24 meses) e crianças vulneráveis (Souza et al., 2024).

A identificação precoce dos fatores de risco e a implementação de estratégias preventivas minimizam complicações. O diagnóstico é predominantemente clínico apesar dos avanços moleculares. O PCR pode ser utilizado (reação em cadeia polimerase) (Wishaput et al., 2011) . Exames laboratoriais e de imagem nem sempre são necessários (Ralston et al., 2014).

Não há tratamento antiviral específico. Os cuidados são direcionados aos sintomas e suporte clínico, incluindo hidratação e suporte ventilatório aos casos mais graves (Meissner, 2016).  Há ressalvas no uso de broncodilatadores e corticosteróides (Gadomski; Scribani, 2014).

A prevenção é mais resolutiva, via imunização passiva, a exemplo da utilização da solução injetável de palivizumabe, uma imunoglobulina distribuída pelo SUS e administrado mensalmente durante o período sazonal de circulação do Vírus Sincicial Respiratório (VSR) na comunidade (Brasil, 2018; Brasil, 2013;). Critérios de inclusão para recebimento da imunoglobulina:

I – Crianças menores de um ano que nasceram com idade gestacional até 28 semanas e seis dias;

II – Crianças com displasia broncopulmonar (doença pulmonar crônica da prematuridade) menores de dois anos de idade que necessitaram de tratamento prolongado (oxigênio inalatório, diuréticos, broncodilatadores, corticóides sistêmicos ou inalatórios) nos seis meses anteriores ao início da sazonalidade.

III – Crianças menores de dois anos de idade com cardiopatia congênita ou adquirida com quadro clínico de insuficiência cardíaca e/ou hipertensão pulmonar significativo ou cardiopatia congênita cianótica no período da sazonalidade.

Outras medidas de prevenção:

– Higienizar as mãos

– Intensificar os cuidados de higiene pessoal.

– Limitar o contato com pessoas infectadas.

– Orientar os familiares quanto à importância da higienização correta das mãos.

– Fazer desinfecção das superfícies expostas às secreções corporais

– Evitar locais com aglomeração de pessoas, inclusive creches, nos meses de maior incidência da doença

– Evitar exposição passiva ao fumo dos pais e familiares

– Cuidados com pacientes que fazem parte dos grupos de risco

– Vacinar-se contra Influenza de acordo com o Programa Nacional de Imunização

Apesar de protocolos com mais de 10 anos de elaboração pelo Ministério da Saúde, a bronquiolite aguda continua a ser um desafio em termos de pediatria, paralelamente a outras condições que ocorrem na infância. A triagem bem feita é importante para absorção do paciente no fluxo de atendimento adequado, como também a estruturação da Rede de Atenção à Saúde que deve incorporar a linha de cuidado voltada para o público comumente afetado. Sem exceção com relação a educação dos responsáveis pelas crianças, como também adoção de alternativas, novas tecnologias para otimização do cuidado.

                                                                   REFERÊNCIAS

BRASIL. Portaria Nº 522, de 13 de maio de 013. Aprova o protocolo de uso do Palivizumabe. Disponível em : bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2013/prt0522_13_05_2013.html

BRASIL. Portaria Conjunta Nº 23, de 3 de outubro de 2018. Aprova o protocolo de uso do Palivizumabe para prevenção da infecção pelo Vírus Sincicial Respiratório. Disponível em : https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/sas/2018/poc0023_10_10_2018.html

GADOMSKI, A. M.; SCRIBANI, M. B. Bronchodilators for bronchiolitis. Cochrane Database of Systematic Reviews , n. 6, art nº CD001266. 2014 DOI: 10.1002/14651858.CD001266.pub4 . Disponível em : cochranelibrary.com/cdsr/doi/10.1002/14651858.CD001266.pub4/epdf/full

HALL, C. B. et al. The burden of respiratory syncytial virus infection in young children. New England Journal of Medicine, v. 360, n. 6, p. 588-598, 2009. DOI: 10.1056/nejmOA0804877. Disponível em https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa0804877

LANARI, M.; VANDINI, S.; CAPRETTI, M. G.; LAZZAROTTO, T.; FALDELLA, G. Respiratory syncytial virus infections in infants affected by primary immunodeficiency. Journal of Immunology Research, v. 2014, p. 850831, 2014.  DOI:10.1155/2014/850831. Disponível em : https://europepmc.org/article/PMC/4095650

MEISSNER, H. C. Viral bronchiolitis in children. New England Journal of Medicine, v. 374, n. 1, p. 62-72, 2016. DOI: 10.1056/NEJMra1413456. Disponível em : nejm.org/doi/pdf/10.1056/NEJMra1413456

MIDULLA, F. et al. Respiratory syncytial virus, human bocavirus and rhinovirus bronchiolitis in infants. Archives of Disease in Childhood, v. 95, n. 1, p. 35-41, 2010. Disponível em : https://adc.bmj.com/content/95/1/35

RALSTON, S. L. et al. Clinical practice guideline: the diagnosis, management, and prevention of bronchiolitis. Pediatrics, v. 134, n. 5, p. e1474-1502, 2014. DOI: https://doi.org/10.1542/peds.2014-2742. Disponível em : pediatrics.aappublications.org/content/134/5/e1474

WISHHAUPT, J. O. et al. Clinical impact of RT-PCR for pediatric acute respiratory infections: a controlled clinical trial. Pediatric Pulmonology, v. 46, n. 6, p. 532-539, 2011. DOI: https://doi.org/10.1542/peds.2010-2779 . Disponível em : publications.aap.org/pediatrics/article/128/5/e1113/30993/Clinical-Impact-of-RT-PCR-for-Pediatric-Acute