Autoria: Enfª. Ma. Cristiani Ludmila Mendes Sousa Borges – Equipe de Teleorientação em Pediatria
A sífilis congênita é uma doença grave causada pela bactéria Treponema pallidum, transmitida da mãe para o bebê durante a gestação ou no momento do parto (BRASIL, 2019). A infecção pode provocar consequências sérias para o recém-nascido, como problemas neurológicos, deformidades ósseas, surdez, cegueira e, em casos mais graves, aborto espontâneo, natimortalidade ou morte neonatal (BRASIL, 2020).
No Brasil, a sífilis congênita representa um problema relevante de saúde pública. De acordo com o Boletim Epidemiológico de Sífilis, a taxa de incidência nacional foi de 7,8 casos por 1.000 nascidos vivos em 2022, enquanto no estado de Sergipe essa taxa chegou a 10,2 por 1.000 nascidos vivos, superando a média nacional (BRASIL, 2023).
Durante a gestação, a sífilis não tratada pode causar comprometimento placentário e inflamações que reduzem a oxigenação e nutrição fetal. A transmissão vertical pode ocorrer em qualquer fase da gravidez e está relacionada à fase clínica da doença na mãe, sendo mais elevada nas fases primária e secundária (BRASIL, 2020). As consequências incluem parto prematuro, baixo peso ao nascer, restrição de crescimento intrauterino, óbito fetal e infecções neonatais graves. Além dos impactos diretos no feto, a sífilis aumenta o risco de complicações obstétricas, como ruptura prematura de membranas e corioamnionite, afetando a saúde materna e o desfecho gestacional (BRASIL, 2012).
Diagnóstico
A ação no pré-natal constitui prioridade máxima na vigilância da sífilis congênita, uma vez que o tratamento adequado da gestante também repercute diretamente na saúde do feto, prevenindo abortamento, morte perinatal e sequelas graves (BRASIL, 2012). O diagnóstico na gestante é feito por exames como o VDRL e o teste rápido, que devem ser realizados no início do pré-natal, no terceiro trimestre e no parto (BRASIL, 2020). O teste rápido é uma ferramenta eficaz para diagnóstico imediato, permitindo início rápido do tratamento (BRASIL, 2020). No bebê, o diagnóstico considera a história clínica materna, resultados de exames e avaliação física completa (BRASIL, 2019).
Prevenção
A principal forma de prevenção é a realização de pré-natal completo e de qualidade, com diagnóstico precoce e tratamento adequados da gestante e de seu parceiro, conforme orientações do Caderno de Atenção Básica n. 32 (BRASIL, 2012). O uso de preservativos é fundamental para prevenir a infecção, ou mesmo a reinfecção após o tratamento na gestação (BRASIL, 2019).
Tratamento
A penicilina benzatina é o medicamento de escolha para gestantes e parceiros, sendo fundamental que o tratamento seja iniciado até 30 dias antes do parto, conforme esquema recomendado (BRASIL, 2019).
No recém-nascido com diagnóstico confirmado ou suspeito de sífilis congênita, o tratamento indicado inclui:
– Penicilina cristalina: 50.000 UI/kg/dose, intravenosa, a cada 12 horas nos primeiros 7 dias de vida e a cada 8 horas após esse período, por 10 dias consecutivos (BRASIL, 2019).
– Penicilina procaína: 50.000 UI/kg/dose, intramuscular, uma vez ao dia, por 10 dias consecutivos, como alternativa quando a via intravenosa não for viável (BRASIL, 2019).
Se houver interrupção do tratamento do bebê superior a 24 horas, o esquema deve ser reiniciado. Após o tratamento, recomenda-se acompanhamento clínico, e sorológico trimestral da criança até a negativação ou estabilização dos títulos não treponêmicos (BRASIL, 2020).
Conclusão
A eliminação da sífilis congênita exige estratégias integradas que priorizem: prevenir novos casos em mulheres em idade fértil; evitar ou interromper a transmissão vertical; e reduzir as consequências da doença para a criança, por meio de diagnóstico e tratamento oportunos (BRASIL, 2012; BRASIL, 2019; BRASIL, 2020).
Além das ações no âmbito da saúde, é fundamental o engajamento da sociedade como um todo, promovendo informação, conscientização e combate ao estigma. O envolvimento ativo dos homens no pré-natal, na testagem e no tratamento é indispensável para interromper a cadeia de transmissão, garantir a adesão terapêutica e oferecer apoio à gestante, fortalecendo o cuidado compartilhado. Assim, a eliminação da sífilis congênita depende não apenas da atuação dos serviços de saúde, mas também de um compromisso coletivo pela saúde materno-infantil.
Referências
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. (Cadernos de Atenção Básica, n. 32).
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente. Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Boletim Epidemiológico de Sífilis. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2023.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Sífilis congênita. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2019.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2020.