Chikungunya: o que é, como se transmite e como se proteger

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Autoria: Enfermeira Ana Carolina de Paula T. Miranda – Equipe de Teleorientação em Pediatria

A Chikungunya é uma doença viral transmitida por mosquitos do gênero Aedes, particularmente Aedes aegypti e Aedes albopictus. Originalmente descrita na África nos anos 50, a doença tem se disseminado de maneira crescente pelo mundo, especialmente para regiões tropicais e subtropicais, incluindo América Latina, Caribe e partes da Ásia (World Health Organization, 2017).

O nome “Chikungunya” provém da língua Makonde, falada na região da África Oriental, e significa “aqueles que se curvam”, uma referência à dor intensa nas articulações, característica do quadro clínico da doença (Weaver et al., 2012). Embora, na maioria dos casos, a Chikungunya tenha um curso benigno, com recuperação completa, a dor articular pode persistir por meses, causando significativo impacto na qualidade de vida dos pacientes (Paixão et al., 2017). 

A Chikungunya é uma doença que se espalhou rapidamente em várias partes do mundo, em parte devido à expansão dos mosquitos Aedes, que se adaptam bem ao ambiente urbano e à globalização do transporte (Dyer et al., 2016). O primeiro surto significativo de Chikungunya fora da África ocorreu nas Ilhas do Índico em 2004, e desde então, o vírus se espalhou para outras regiões, incluindo a América Latina, com o primeiro caso autóctone registrado no Brasil em 2014 (Brasil, 2014). Desde então, o país tem enfrentado uma série de surtos, com números elevados de casos, particularmente no Nordeste e em áreas urbanas densamente povoadas.

O vetor da doença, Aedes aegypti, tem ampla distribuição geográfica, o que favorece a transmissão em diversas regiões tropicais e subtropicais (WHO, 2017). A combinação de fatores como aquecimento global, urbanização descontrolada e falta de infraestrutura de saneamento básico contribui para o aumento da população de mosquitos e, consequentemente, para a proliferação da doença (Medeiros et al., 2015).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o vírus Chikungunya tem uma forte relação com o fenômeno da mobilidade humana. Viagens internacionais e deslocamentos de populações também são fatores críticos para a disseminação da doença (WHO, 2017). A urbanização, por sua vez, tem favorecido a proliferação dos mosquitos, que encontram em ambientes urbanos numerosos criadouros, como caixas d’água, pneus e outros recipientes que acumulam água da chuva (Zanini et al., 2016).

 

Sintomas Clínicos e Diagnóstico

 

Os sintomas da Chikungunya aparecem geralmente de 3 a 7 dias após a picada do mosquito infectado e incluem febre alta, dor intensa nas articulações (principalmente em mãos, tornozelos e joelhos), dor de cabeça, erupções cutâneas e cansaço (Lopes et al., 2017). O quadro clínico pode ser confundido com outras arboviroses, como a dengue, especialmente nos primeiros dias de infecção. A dor articular, no entanto, é um dos principais diferenciais da Chikungunya, sendo descrita como severa e muitas vezes incapacitante (Melo et al., 2017). Além disso, a erupção cutânea pode ser observada em muitos pacientes, com manchas vermelhas que surgem geralmente após a febre (Toscano et al., 2016).

O diagnóstico da Chikungunya é feito com base no quadro clínico e pode ser confirmado através de exames laboratoriais, como a detecção de anticorpos específicos (IgM e IgG) ou a identificação do RNA viral por meio de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) (Brasil, 2014). O diagnóstico diferencial é essencial para diferenciar a Chikungunya de outras doenças com sintomas semelhantes, como Dengue e Zika.

Embora a Chikungunya tenha um curso clínico geralmente benigno, em alguns casos, pode ocorrer uma evolução para complicações graves, como encefalite, insuficiência respiratória e choque, especialmente em pacientes imunocomprometidos ou com comorbidades (Harris et al., 2015).

 

 Tratamento e Manejo Clínico
 
 Atualmente, não existe um tratamento antiviral específico para a Chikungunya. O manejo da doença é essencialmente sintomático, com foco no alívio das dores articulares e febre. Os medicamentos mais frequentemente utilizados são os anti-inflamatórios não esteroides (AINEs), como o ibuprofeno, e o paracetamol (Brasil, 2014). No entanto, a utilização de ácido acetilsalicílico (aspirina) é contraindicada, especialmente em crianças, devido ao risco de síndrome de Reye (Toscano et al., 2016).

Em casos mais graves ou em pacientes com dor persistente nas articulações, pode ser necessário o uso de fisioterapia para melhorar a mobilidade e reduzir a dor crônica. Embora o quadro de dor articular possa durar semanas ou até meses, a maioria dos pacientes se recupera completamente (Paixão et al., 2017). O repouso, hidratação adequada e acompanhamento médico são componentes importantes no tratamento.

 

 Prevenção e Controle

Como não há vacina disponível para a Chikungunya, a principal medida de prevenção é o controle dos mosquitos transmissores. A eliminação dos criadouros de Aedes aegypti e Aedes albopictus é fundamental para interromper a cadeia de transmissão. Ações como o descarte adequado de lixo, a eliminação de recipientes que acumulam água e o uso de larvicidas são fundamentais para reduzir a população de mosquitos (Medeiros et al., 2015). Além disso, a população deve ser orientada a usar repelentes, vestir roupas que cubram a maior parte do corpo e utilizar telas em janelas e portas para evitar as picadas (WHO, 2017).
No Brasil, o combate ao mosquito tem sido intensificado através de campanhas de conscientização pública, e a mobilização comunitária é essencial para o sucesso dessas estratégias (Brasil, 2014). A participação ativa da comunidade na eliminação de focos do mosquito e o monitoramento de áreas endêmicas são essenciais para reduzir a incidência de novos casos.

A Chikungunya representa um desafio significativo para a saúde pública mundial, especialmente em países tropicais e subtropicais. Embora a doença tenha um curso clínico, em sua maioria, autolimitado, as complicações associadas à dor articular crônica podem afetar a qualidade de vida dos pacientes. O controle dos mosquitos transmissores, a conscientização pública e a mobilização social são as principais estratégias de prevenção. Para o sucesso no combate à doença, é crucial um esforço conjunto entre as autoridades de saúde, os profissionais de saúde e a população em geral.

Dada a crescente globalização e o aumento da urbanização, a Chikungunya continuará a ser um problema de saúde pública nas próximas décadas. Portanto, o investimento em campanhas educativas, além da melhoria nas condições de saneamento e infraestrutura urbana, é essencial para a redução da transmissão e do impacto da doença.

 

Referências

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Doença por Chikungunya: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento. 2014. Disponível em: http://www.saude.gov.br


MONTERO, A. Chikungunya fever – A new global threat. Medicina Clínica (English Edition), v. 145, n. 3, p. 118-123, 7 ago. 2015. Disponível em: 10.1016/j.medcle.2014.05.013. 


HIGGS, S. Chikungunya virus: a major emerging threat. Vector-Borne and Zoonotic Diseases, v. 14, n. 8, p. 535-536, ago. 2014. 


MARQUES, Claudia Diniz Lopes et al. Recomendações da Sociedade Brasileira de Reumatologia para diagnóstico e tratamento da febre chikungunya. Parte 1–Diagnóstico e situações especiais. Revista Brasileira de Reumatologia, v. 57, p. 421-437, 2017.


MEDEIROS, R. et al. Chikungunya: uma revisão da doença e sua epidemiologia. Journal of Tropical Medicine, 2015. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC9147731/


MELO, H. M. Tratamento da artrite crônica por Chikungunya: uma revisão sistemática. Revista da Associação Médica Brasileira, v. 64, n. 1, p. 63–70, 2018. DOI: 10.1590/1806-9282.64.01.63.


PAIXÃO, E. S. et al. The impact of Chikungunya virus in Brazil: a review of epidemiological, clinical and prevention strategies. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 20, n. 1, p. 74-88, 2017. 

TOSCANO, C. M. et al. The Chikungunya virus and its clinical manifestations. Journal of Infectious Diseases, 2016. 


WEAVER, S. C.; et al. Chikungunya virus: history, epidemiology, transmission and clinical manifestations. The Lancet Infectious Diseases, v. 12, n. 1, p. 1–12, jan. 2012.


WHO. Chikungunya: an overview. World Health Organization, 2017. Disponível em: https://www.who.int