Por: Daniela Alves Freire - Médica Telerreguladora
Você sabia?
Em 2010, foi sansionada a Lei nº 12.199 que instituiu o Dia Nacional de Combate e Prevenção ao Escalpelamento, a ser comemorado anualmente no dia 28 de agosto, com o objetivo de conscientizar os brasileiros sobre esse grave problema e dar visibilidade à realidade de exclusão e violência que as vítimas de escalpelamento enfrentam diariamente.1
Escalpelamento é um trauma causado pela avulsão parcial ou total do escalpo (couro cabeludo), causado por diversos mecanismos como tração, queimadura, infecção, ablação cirúrgica de tumores e lesões congênitas. Trata-se de uma lesão grave que, na maioria das vezes, deixa sequelas importantes ao seu portador. 2
No Brasil, a maioria desses acidentes por tração ocorrem em embarcações de pequeno porte usadas para transporte e pesca, em regiões ribeirinhas. O couro cabeludo é arrancado bruscamente por eixos e partes móveis dos motores, que proporciona a movimentação das embarcações, pela forte e ininterrupta rotação do motor ao enrolar os cabelos em torno do eixo. A vítima pode perder, inclusive orelhas, sobrancelhas e por vezes uma enorme parte da pele do rosto e pescoço, levando a deformações graves e até a morte.3
Em geral, são acidentes de grandes proporções, provocando comprometimento intenso. Há comprometimento secundário em regiões adjacentes, provocando dor, edema, hematomas e limitação de movimentos. Também ocorrem alterações em audição, fala e visão.4,5
Esses comprometimentos interferem diretamente na qualidade de vida e na saúde da vítima. É uma vivência de intenso sofrimento psíquico e social, pois acarreta danos significativos à autoestima, à identidade, à percepção corporal, ao humor, à sociabilidade e às relações afetivas globais, além de contribuir para alterar a dinâmica e a economia familiar.5,6
Segundo dados da Capitania dos Portos da Amazônia Oriental (CPAOR), 93% dos casos de escalpelamento da região amazônica têm mulheres como vítimas. Destas, 65% são crianças, 30% adultos e 5% idosos.
A prevenção desses acidentes se dá pela construção de embarcações com proteção no eixo e nas partes móveis do motor. Nas antigas, deve-se confeccionar cobertura para o eixo e partes móveis do motor e retirar de tráfego as embarcações que não atendam as normas de segurança. A Marinha do Brasil, por meio da Capitania dos Portos, oferece e instala gratuitamente a proteção do motor desde 2019.3
Conscientizar a população é, também, um importante meio de prevenção dos acidentes. Deve-se incentivar as pessoas com cabelos longos prendê-los antes de embarcar, evitar o uso de colares ou cordões, manter as crianças em segurança próximo a adultos, sempre verificar se o eixo do motor está protegido e orientar não viajar em embarcações que não estejam oferecendo segurança. Deve-se Denunciar à Capitania dos Portos quaisquer irregularidades encontradas a bordo das embarcações.
Referências bibliográficas:
1.BRASIL. Lei nº 12.199, de 14 de janeiro de 2010. Institui o Dia Nacional de Combate e Prevenção ao Escalpelamento. Brasília, 14 de janeiro, 2010. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/L12199.htm
2.Uliano EJM, Lucchese IC, Avila DFV, Brito MB, Vasconcellos ZAA, Ely JB. Reconstrução total de couro cabeludo: relato e experiência de dois casos. Rev. Bras. Cir. Plást.2018;33(0):53-55
3.Marinha do Brasil. Capitania dos portos da Amazônia oriental: Prevenção ao Escalpelamento. Belém, 2015. [citado 2016 Set 23]. https://docplayer.com.br/9203987-Marinha-do-brasil-capitania-dos-portos-da-amazonia-oriental.html
4.Britto CBL, Normando Júnior GR, Fonseca CCF, Aita V, Pinheiro Filho A. Escalpelamento na população amazônica. Rev Para Med. 2004; 18(2):35-8.
5.Cunha CB, Sacramento RMM, Maia BP, Marinho RP, Ferreira HL, Goldenberg DC, et al. Perfil epidemiológico de pacientes vítimas de escalpelamento tratados na Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará. Rev Bras Cir Plást 2012;27(1):3-8. https://doi.org/10.1590/S1983-51752012000100003
6.Ribeiro NS. Necessidade e dilemas das famílias vítimas de escalpelamento atendidas na FSCMP: desafios para o serviço social [trabalho de conclusão de curso]. Belém: Universidade Federal do Pará; 2009.