* Lilian Libório – Teleconsultora enfermeira – Núcleo de Telessaúde Sergipe
O termo estresse denota o estado gerado pela percepção de estímulos que provocam excitação emocional e, ao perturbarem a homeostasia, disparam um processo de adaptação caracterizado, entre outras alterações, pelo aumento de secreção de adrenalina produzindo diversas manifestações sistêmicas, com distúrbios fisiológico e psicológico. O termo estressor por sua vez define o evento ou estímulo que provoca ou conduz ao estresse (1).
A resposta ao estresse é resultado da interação entre as características da pessoa e as demandas do meio, ou seja, as discrepâncias entre o meio externo e interno e a percepção do indivíduo quanto a sua capacidade de resposta. Esta resposta ao estressor compreende aspectos cognitivos, comportamentais e fisiológicos, visando a propiciar uma melhor percepção da situação e de suas demandas, assim como um processamento mais rápido da informação disponível, possibilitando uma busca de soluções, selecionando condutas adequadas e preparando o organismo para agir de maneira rápida e vigorosa. A sobreposição destes três níveis (fisiológico, cognitivo e comportamental) é eficaz até certo limite, o qual uma vez ultrapassado, poderá desencadear um efeito desorganizador. Assim, diferentes situações estressoras ocorrem ao longo dos anos, e as respostas a elas variam entre os indivíduos na sua forma de apresentação, podendo ocorrer manifestações psicopatológicas diversas como sintomas inespecíficos de depressão ou ansiedade, ou transtornos psiquiátricos definidos (1).
Durante as epidemias, o número de pessoas cuja saúde mental é afetada tende a ser maior que o número de pessoas afetadas pela infecção. Tragédias anteriores mostraram que as implicações para a saúde mental podem durar mais tempo e ter maior prevalência que a própria epidemia e que os impactos psicossociais e econômicos podem ser incalculáveis se considerarmos sua ressonância em diferentes contextos (2).
A OMS publicou algumas recomendações individuais para manter a saúde mental e psicossocial como (3):
- Cuidar de si e dos outros, mantendo contato com amigos e familiares e encontrando tempo para atividades de lazer;
- Seguir as recomendações da OMS e das agências de saúde do governo;
- Prestar atenção às suas próprias necessidades, sentimentos e pensamentos;
- Limitar a exposição às notícias relacionadas a pandemia, pois muita informação pode desencadear distúrbios de ansiedade;
- Comunicar a alguém quando sentir sintomas de tristeza ou ansiedade;
- Auxiliar, tanto quanto possível, pessoas em grupos de risco.
Portanto, especificamente para esse novo cenário do COVID19, sugerem-se que três fatores principais sejam considerados ao desenvolver estratégias de saúde mental: 1) equipes multidisciplinares de saúde mental (incluindo psiquiatras, enfermeiros psiquiátricos, psicólogos clínicos e outros profissionais de saúde mental); 2) comunicação clara envolvendo atualizações regulares e precisas sobre o surto; e 3) estabelecimento de serviços seguros de aconselhamento psicológico (por exemplo, via dispositivos ou aplicativos eletrônicos) (4).
Referências
1 – Margis R, Picon P, Cosner AF, Silveira RO. Relação entre estressores, estresse e ansiedade. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul. Vol.25, suppl.1. Porto Alegre, Apr. 2003.
2 – Ornell F, Schuch JB, Sordi AO, KeSSler FHP. “PandemiC fear” and CoVid-19: mental health burden and strategies. Rev. Debates in psychiatry. 2020.
3 – World Health Organization. Global Health Estimates2016:disease burden by cause, age, sex, by country and by region, 2000-2016. Geneva: WHO; 2018.
4 – Xiang YT, Yang Y, Li W, Zhang L, Zhang Q, Cheung T, et al. Timely mental health care for the 2019 novel coronavirus outbreak is urgently needed. Lancet Psychiatry. 2020;7:228-9.