Autoria: Janaina Amarante – Analista em gestão da Educação em Saúde da FUNESA
A Febre Oropouche já foi a segunda arbovirose com mais notificações no Brasil ( dengue sempre a primeira), antes mesmo das altas de casos de CHIKV e ZIKV. Os sintomas são semelhantes aos de outras arboviroses: febre, mialgia e artralgia (dores nos músculos e articulações), cefaleia (dor de cabeça), dores nos olhos, prurido e diarreia. Estes podem ocorrer durante sete dias, com recidiva após duas semanas (Vasconcelos et al., 1998). Tal como a dengue, em casos graves podem ocorrer hemorragias (Pinheiro et al., 1997; Bastos et al., 2012; Vasconcelos et al., 1998; Romero-Alvares. Escobar, 2018).
O nome Oropouche advém do local onde foi descoberto: a cidade de Vega de Oropouche, em Trindad e Tobago. E sempre esteve presente em áreas de mata e rurais. Pode-se pontuar que quanto mais desmatamento e em clima tropical, maior a proliferação de mosquitos que transmitem arboviroses em áreas urbanas. Atrelado a alteração no comportamento dos vetores, o Brasil possui ambientes cada vez mais propícios para a ocorrência de diversas arboviroses. Até o momento sabe-se que o Aedes aegypti não tem capacidade de transmitir esse vírus (FIOCRUZ, 2024), apesar de serem patologias semelhantes em sintomatologia.
Aqui no país o vetor primário é o Culicoides paraensis, conhecido como mosquito-pólvora ou maruim. Em ambientes urbanos, o Culex quinquefasciatus (pernilongo) também pode ser vetor, porém o maruim se tornou protagonista. E há décadas o OROV (vírus Oropouche) é identificado no Brasil em regiões amazônicas e extra-amazônicas. Foi identificado pela primeira vez em 1960 (no sangue de um bicho preguiça), segundo pontua a Nota Técnica Conjunta – nº 02/2024 IAL/CVE/CCD/SES/SP. A preferência do maruim é de se criar em áreas com matéria orgânica em decomposição e com umidade. Não possui preferência pelo interior das residências. Mas quanto mais próxima de áreas em surto, maiores as chances de casos notificados em pessoas.
Em 1º de Agosto de 2024 ocorreram dois óbitos no Estado da Bahia, além de transmissões verticais (de gestantes para bebês) por OROV no Estado de Pernambuco (OPAS, 2024). A depender do ciclo, se silvestre ou urbano, os hospedeiros podem ser primatas não-humanos, aves, roedores, bichos preguiça e o homem (São Paulo, 2024). Há uma preocupação maior com gestantes infectadas, pois os casos podem evoluir para óbito fetal, alterações neurológicas nos bebês, a exemplo da microcefalia, prematuridade e presença de outras anomalias congênitas. Nesse sentido, as gestantes infectadas precisam ser acompanhadas com muito critério. A notificação é compulsória, como aponta a Nota Técnica Nº 01/2024-CVE/IAL/CRS/CCD/SES-SP/FMUSP e outras publicações científicas (Souza et al., 2024; Pereira et al., 2021; Pereira-Silva, 2024).
A detecção do vírus é realizada através de exames laboratoriais com o RT-PCR, não havendo ainda testes rápidos ambulatoriais. E por mais que tenham sido identificados casos positivos em todo o século XX, essa patologia ainda é facilmente confundida com outros tipos de doenças virais (Gutierrez et al., 2020). O tratamento é sintomático (De Melo et al., 2020).
A atuação da Saúde Pública, em termos de saúde coletiva, é imprescindível. Todos precisam compreender onde estão os focos dos mosquitos transmissores de doenças, os tipos de autocuidado, como o uso de repelentes, telas nas janelas, evitarem áreas em surto e água em recipientes que podem se tornar propícios para a proliferação. Infelizmente a urbanização tem gerado muito desmatamento e alteração de diversos nichos. O manejo correto dos ambientes é crucial para que haja diminuição na ocorrência de arboviroses, como também educação em saúde da população, com ação conjunta dos órgãos fiscalizadores nesses ambientes.
Referências
SILVA, J. W. P. Vírus Oropouche: Epidemiologia, vetores e diagnóstico. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v.6, n.7 p.10–20. 2021 DOI: https://doi.org/10.36557/2674-8169.2024v6n7p10-20.
PEREIRA, C. dos S.; PICANÇO, M. R. S.; VALE G. P. do; OLIVEIRA, C. S. de; AMORIM, F. A. S. de; COSTA, F. da S.; PEREIRA, M. T. dos S. Epidemiologia, diagnóstico e tratamento da febre de Oropouche no Brasil: revisão de literatura/ Epidemiology, Diagnosis and Treatment of Oropouche Fever in Brazil: A Literature Review. Brazilian Journal of Health Review, [S. l.], v. 4, n. 6, p. 23912–23920, 2021. DOI: 10.34119/bjhrv4n6-023.
SÃO PAULO. Vigilância da Febre Oropouche no Estado de São Paulo. Nota Técnica Conjunta – nº 02/2024 – IAL/CVE/CCD/SES/SP. Disponível em https://portal.saude.sp.gov.br.
SÃO PAULO. Orientação para as vigilâncias epidemiológicas do estado de São Paulo frente à notificação para investigação de casos suspeitos/confirmados da Febre do Oropouche em gestantes, anomalias congênitas ou óbitos fetais. NOTA TÉCNICA CONJUNTA Nº 01/2024-CVE/IAL/CRS/CCD/SES-SP/FMUSP. Disponível em portal.saude.sp.gov.br.
ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE/ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Atualização epidemiológica – Oropouche na Região das Américas, 01 de agosto de 2024. Washington, D.C.: OPAS/OMS; 2024. Disponível em www.paho.org/pt/documentos/alertaepidemiologico-oropouche-na-regiao-das-americas-1-agosto-2024
DE MELO, Karla Fabiane Lopes et al. O vírus oropouche e o seu contexto epidemiológico na america latina no período de 2009 a 2019. Revista Eletrônica Acervo Saúde, n. 57, p. e4138-e4138, 2020.
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PINHEIRO, FP. et al. Doenças infecciosas e parasitárias: enfoque amazônico. CEJUP; Belém: 1997. Febre por Oropouche; pp. 285–298.
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