Autoria: Janaina Eduarda Amarante Gonçalves Bispo. Analista em Gestão da Educação em Saúde na Funesa.
A icterícia neonatal é uma patologia que envolve principalmente a sobrecarga de bilirrubina no hepatócito (célula do fígado), o que pode ocasionar em consequências fisiológicas ao organismo dos recém-nascidos, em caso de hiperbilirruminemia que atinge o Sistema Nervoso Central. A maior característica é a cor amarelada da pele do neonato, olhos, podendo atingir mucosas. Quanto maior a extensão, maior é o acúmulo da bilirrubina sérica nos tecidos.
Por ser uma manifestação aparente no período de transição fetal para a vida neonatal, a icterícia pode ser percebida nas primeiras horas de vida (valores de bilirrubina acima de 5mg/dl), como adaptação fisiológica, ou seja, pode ser manifestação não patológica. Entretando, muitas vezes pode decorrer de um processo patológico, como doenças autoimunes, incompatibilidade RH, ação de antígenos e enzimas, como também de patologias hemolítica, que envolvem destruição de hemácias.
A bilirrubina direta (BD, conjugada), é processada no fígado e excretada pela bile, enquanto a bilirrubina indireta (BI, não conjugada) é o produto da quebra das hemácias, não processada pelo fígado, e é insolúvel em água. A bilirrubina total (BT) é a soma dessas duas frações e os exames são usados para avaliar a função hepática, o sistema biliar e identificar problemas como icterícia, que pode indicar aumento dos níveis de bilirrubina.
O aumento no nível sérico de bilirrubina indireta incorre em maiores chances do RN evoluir para encefalopatia bilirrubinica aguda. Nesse caso, o bebê apresenta hipotonia e sucção débil, progredindo para hipertonia, convulsões e choro agudo (irritação). Nessa fase o RN pode evoluir para óbito. Entretando, em hiperbilirrubinemia, com concentrações elevadas, a condição torna-se mais lesiva ainda ao cérebro enquanto Kernicterus (caracterizada pelo amarelamento dos núcleos de base cerebrais), resultando em seqüelas neurológicas: paralisia cerebral espástica, movimentos atetóides (involuntários), distúrbios de deglutição e fonação, deficiência auditiva e mental. Outros riscos: susceptibilidade a infecções, enterocolite necrosante e tromboses.
Quando da incompatibilidade sanguínea entre o feto e a mulher gestante, ou seja, incompatibilidade entre os tipos de sangue da mãe e do feto, isso pode levar a uma condição chamada Doença Hemolítica Perinatal (ou do Recém-Nascido), onde os anticorpos da mãe atacam as hemácias do feto.
Também tem sido relatados casos de encefalopatia bilirrubínica em recém-nascidos próximos ao termo (35-36 semanas) ou RN termo (37-41 semanas), que recebem alta hospitalar antes de 48 horas de vida sem acompanhamento adequado do estabelecimento de lactação e aleitamento materno. O aleitamento materno ajuda a prevenir a icterícia ao promover a eliminação frequente da bilirrubina através das fezes, com o bebê recebendo a hidratação necessária e os fluidos que auxiliam nesse processo.
Fatores de risco
– Fatores clínico-laboratoriais de aumento de bilirrubina nas 24 após o nascimento ou após o nascimento sem redução;
– Incompatibilidade materno-fetal RH (antígeno D), ABO ou antígenos irregulares;
– Clampeamento de cordão umbilical 60 segundos após o nascimento;
– Aleitamento materno com dificuldade ou peso de peso > 7% em relação ao peso de nascimento;
– Irmão com icterícia neonatal tratado com fototerapia;
– Presença de céfalo-hematoma ou equimoses
– Doenças autoimunes.
Tratamento
O tratamento da icterícia e da hiperbilirrubinemia, quando necessário, pode ser por fototerapia ou exsanguíneo transfusão. A fototerapia age no nível da pele do paciente, sendo importante a exposição corporal à luz. Quanto maior a área exposta, maior a eficácia. Por fotoisomerização da bilirrubina, torna-se mais fácil desta ser excretada. A distância entre o bebê e a fonte de luz deve ser feita com cautela a depender do tipo de fonte luminosa (se equipamentos com lâmpadas fluorescentes ou lapadas halógenas). A exsanguineotransfusão (transfusão sanguínea) é um procedimento mais invasivo, utilizada em situações onde há risco maior de neurotoxidade e é capaz de remover a bilirrubina.
Prognóstico
Pode ocorrer falha no tratamento com fototerapia convencional e necessidade de exsanguíneo transfusão com condições médicas subjacentes que aumentam o risco de complicações, sendo necessário o internamento em UTI neonatal e equipe multiprofissional. A abordagem multidisciplinar pode garantir benefícios significativos. É importante a adoção de protocolos padronizados (validados), monitoramento dos níveis de bilirrubina, com intervenções evidenciadas cientificamente. A puericultura é essencial para acompanhamento dos primeiros dias do recém-nascido.
Fonte
SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Hiperbilirrubinemia indireta no período neonatal. Manual de Orientação. Nº 10, 29 de Setembro de 2021.
GOMES et al.Abordagem Multidisciplinar no Tratamento da Icterícia Neonatal. Journal of Medical and Biosciences Research. V. 1, N. 2. 2024, p.59-75.
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Atenção à saúde do recém-nascido: guia para os profissionais de saúde. 2. ed. atual. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014.4 v. : il.