Asma: do diagnóstico ao tratamento

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Pela Enf.ª  Rosana Dantas dos Santos – Equipe de Teleorientação em Pediatria. 

VOCÊ SABIA?

Um diagnóstico preciso, um plano de tratamento individualizado que combine medidas farmacológicas e não farmacológicas, e a adesão do paciente são os pilares para suprimir os sintomas da ASMA, prevenir complicações e, fundamentalmente, assegurar ao indivíduo uma vida plena e produtiva.

A asma brônquica representa um problema de saúde pública global, gerando alta morbidade e custos significativos para os sistemas de saúde, inclusive no Brasil. Trata-se de uma doença inflamatória crônica das vias aéreas que, embora incurável, pode ser efetivamente controlada com o tratamento adequado. O manejo correto é, portanto, imperativo para garantir a qualidade de vida dos pacientes, permitindo que mantenham suas atividades cotidianas sem limitações (Brasil, 2021).

A asma é definida como uma doença heterogênea, caracterizada por uma inflamação crônica das vias aéreas que leva a um estado de hiper-responsividade brônquica. Fisiologicamente, essa condição faz com que os brônquios reajam de forma exagerada a diversos gatilhos, como alérgenos, infecções virais e poluentes. A exposição a esses fatores de risco culmina em broncoespasmo, edema e produção de muco, gerando os sintomas cardinais da doença: sibilância (chiado), dispneia (falta de ar), opressão torácica e tosse, que tipicamente variam em intensidade e frequência (Rodrigues et al., 2021).

A asma é uma doença multifatorial, influenciada por componentes genéticos e ambientais. Entre os principais fatores de risco estão a predisposição genética (histórico familiar de asma ou atopia), exposição a alérgenos (ácaros, pólen, fungos, pelos de animais), poluentes atmosféricos (fumaça de cigarro, material particulado), infecções respiratórias virais na infância e obesidade. Fatores ocupacionais e condições socioeconômicas desfavoráveis também estão associados a maior prevalência (Brasil, 2021).

O diagnóstico da asma é primariamente clínico, baseado no padrão característico dos sintomas, e confirmado objetivamente pela espirometria. Este exame é fundamental por demonstrar a obstrução reversível do fluxo aéreo após a administração de um broncodilatador. Uma vez diagnosticada, a abordagem moderna do manejo foca na avaliação do nível de controle da doença (controlada, parcialmente controlada ou não controlada), que guia os ajustes terapêuticos de forma mais dinâmica do que a antiga classificação estática de gravidade (Guimarães et al., 2024).

Em crianças menores de cinco anos, o diagnóstico e a classificação da asma são desafiadores, o que dificulta a definição do tratamento adequado. Para auxiliar os pediatras, o Ministério da Saúde, em consonância com a OPAS, tem implementado a Atenção Integrada às Doenças Prevalentes da Infância (AIDPI), que inclui um módulo específico para casos de 2 meses a 4 anos com quadros bronco-obstrutivos, como a asma  (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA, 2003). Por meio de treinamento e um protocolo simplificado, a AIDPI, embora categorize a asma em apenas três níveis de gravidade, indica corticosteróides inalatórios para casos graves e moderados, simplificando as diretrizes do III Consenso Brasileiro.

O tratamento, por sua vez, visa o controle total dos sintomas e a prevenção de complicações, como as crises agudas (exacerbações) e o remodelamento brônquico, uma alteração estrutural permanente das vias aéreas. Para isso, combina-se uma abordagem não medicamentosa, focada no controle de gatilhos ambientais e na educação do paciente, com a terapia farmacológica escalonada. A farmacoterapia se baseia em duas classes principais de medicamentos: os de controle, utilizados continuamente para tratar a inflamação, cujo pilar são os corticosteróides inalatórios (CI); e os de alívio, como os broncodilatadores de curta ação (SABA), usados para alívio rápido dos sintomas durante as crises. Para a prevenção, recomenda-se evitar gatilhos (controle de poeira, umidade e fumo), vacinar-se contra gripe e adotar hábitos saudáveis. (Rodrigues et al., 2021).

Em suma, a asma é uma condição crônica complexa, mas com um prognóstico favorável quando manejada adequadamente. Embora não haja cura, as estratégias terapêuticas atuais permitem um controle eficaz da doença na maioria dos casos. Um diagnóstico preciso, um plano de tratamento individualizado que combine medidas farmacológicas e não farmacológicas, e a adesão do paciente são os pilares para suprimir os sintomas, prevenir complicações e, fundamentalmente, assegurar ao indivíduo uma vida plena e produtiva.

Classificação da Gravidade da Asma e Conduta Terapêutica – Segundo a Estratégia da AIDPI

 

Asma Grave

 – Crises diárias ou persistentes.

– Despertares noturnos frequentes (mais de 2 vezes/semana) com tosse ou dificuldade respiratória.

 – Internações por episódios de sibilância no último ano.

 

Conduta

– Encaminhar ao especialista.

– Se não for possível encaminhar: Utilizar corticosteróide inalatório;

– Esclarecer aos responsáveis como agir durante e após a crise;

– Realizar revisão em dois meses;

– Implementar medidas de controle ambiental.

 

Asma Moderada

– Crises semanais (1 ou mais vezes por semana, mas não diariamente);

 – Sintomas noturnos entre 1 a 2 vezes por semana;

 

Conduta

– Aplicar corticosteróide via inalatória.

 – Encaminhar crianças menores de 1 ano para avaliação especializada.

 – Instruir os pais sobre como proceder nas crises e quando procurar ajuda.

 – Retorno em dois meses.

 – Promover controle ambiental.

 

Asma Leve

– Crises e sintomas noturnos com frequência inferior a 1 vez por semana e até 3 vezes por mês.

 

Conduta

– Orientar os cuidadores sobre o manejo das crises e sinais de alerta;

 – Reforçar práticas de controle ambiental;

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Asma:

Relatório de Recomendação. Brasília, DF: CONITEC, 2021. Disponível em:

https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/consultas/relatorios/2021/20210526_pcdt_relatorio_asma_cp_39.pdf . Acesso em:14 jun. 2025.

 

GUIMARÃES, A. C. C. M. et al. Diagnóstico e tratamento da asma: uma revisão de

literatura. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, [S. l.], v. 6, n. 8, p.

5230–5240, 2024. DOI: 10.36557/2674-8169.2024v6n8p5230-5240. Disponível em:

https://bjihs.emnuvens.com.br/bjihs/article/view/3228 . Acesso em: 14 jun. 2025.

 

RODRIGUES, A. S. et al. Abordagem geral da asma: uma revisão narrativa. Revista

Eletrônica Acervo Médico, v. 1, n. 2, p. 1-6, 5 nov. 2021. Disponível em:

https://acervomais.com.br/index.php/medico/article/view/9129 . Acesso em: 14 jun. 2025.

 

SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA (SBP). Núcleo Gerencial do Departamento

Científico de Pneumologia da SBP. Asma pediátrica: responsabilidade médica sobre a

conscientização dos pais e pacientes. Rio de Janeiro, 2003. Disponível em:

https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/img/cursos/asma/asma_pediatrica03.pdf. Acesso em: 16 jun. 2025.